A teoria sistêmica é uma abordagem que surgiu a partir do trabalho de profissionais na área de saúde que perceberam a riqueza e a necessidade de aprofundar o entendimento da dinâmica familiar e sua relação com a interação do indivíduo com seu meio. A compreensão do sistema permite o entendimento dos sintomas familiares e de como o sistema influência a promoção de qualidade de vida de cada indivíduo da família. As premissas sistêmicas das teorias de família remetem ao trabalho do biólogo Ludwig Von Bertalanffy (1973) que questiona o modelo mecanicista do meio acadêmico na época e publica em 1967 e 1968 a Teoria Geral dos Sistemas (VASCONELLOS, 2010).
A teoria desenvolvida por Bertalanffy (1973) é distinguida de duas maneiras, uma nomeada de Teoria Sistêmica, vista como uma abordagem instrumentalizada no campo da psicologia e a Teoria Geral dos Sistemas sendo mais ampla e abrangendo todas as áreas do conhecimento, como física, química e outras (BOLZE, BUENO E CREPALDI, 2014).
Nesse caminho, a teoria dos sistemas familiares conta com vários autores pioneiros no entendimento da família como sistema. Foi na década de 1950 que a Teoria Familiar Sistêmica passou a ter maior relevância (SERVENY, 1994). Dentre os primeiros autores, se encontra Bateson (1980) e Minuchin (1985), outro grande expoente da psicologia familiar sistêmica.
Aprofundar sobre a Teoria Sistêmica no âmbito da Terapia de Família remete a valorização da força que a família possui na formação da subjetividade do indivíduo e para a formação da sociedade. A valorização da história familiar passa a ser primordial para a abordagem, para ampliar novas possibilidades, sendo fundamental para a compreensão de irregularidades no sistema.
Através das configurações familiares, cada membro dessa interação permeia pelo processo de pertencimento e individuação até se sentir confiante suficiente perante sua singularidade. A busca pela compreensão de si acontece também pelas relações sociais. Validar o indivíduo no seu processo de reconhecimento é encorajá-lo para o enfrentamento de situações estressoras. No subsistema fraternal, a relação entre irmãos é considerada o primeiro experimento social, no qual as crianças podem experimentar relações com iguais (MINUCHIN, 1982).
A abordagem sistêmica favorece a resolução de conflito e diminuição do sofrimento, as relações restabelecidas reorganizam o sistema familiar (NICHOLS E SCHWARTZ, 2007).
Ao longo do desenvolvimento biológico natural da vida, o indivíduo se constitui num modelo social esperado pelo ambiente que o cerca e se depara com perdas afetivas naturais. As configurações de reorganização a cada fase do ciclo vital são normais e previsíveis. O estresse relacionado a situações desconhecidas faz parte do processo de mudança e continuidade (MINUCHIN, 1982).
A construção da relação familiar é caracterizada pela presença de uma união constitutiva para sua formação que ao longo dos ciclos vitais, ocorre desequilíbrio no sistema para um rearranjo no processo de individuação. A passagem dessa etapa é esperada e marcada pela maturidade, pertencimento aos pares e autoconhecimento. A depender do nível de individuação há uma tendência ao desequilíbrio do grupo familiar conforme o nível de diferenciação de um membro (BOWEN, 1991).
Para Mota e Matos (2013, p. 02)“a individuação é um processo evolutivo que ocorre na díade relacional entre pais e filhos, esse processo começa na adolescência e estende-se até a idade adulta”. Com isso, nesse processo ocorrem muitas reflexões sobre diferentes formatos de relacionamento entre os membros da família e muitas descobertas com grupos sociais permitindo escolher e descobrir novos comportamentos e/ou repetir da família de origem o que se aprendeu.
Referências:
BERTALANFFY, Ludwig Von. Teoria Geral dos Sistemas. Rio de Janeiro: Vozes, 1973.
VASCONCELLOS, Maria. Jose. Esteves de. Pensamento sistêmico: O novo paradigma da ciência. Campinas: Papirus, 2010.
MlNUCHIN, Salvador. Famílias: Funcionamento & Tratamento. Porto Alegre: Artes Médicas, 1982.
BOWEN, Murray. De lafamilia al individuo: La diferenciación Del símismoenel sistema familiar. Barcelona: Paidós, 1991.
MOTA, Catarina Pinheiro; MATOS, Paula Mena. Conflitos interparentais e individuação em jovens adultos portugueses: papel dos conflitos de lealdade. Psic.: Teor. e Pesq. vol.29 no. 3. Brasília, 2013. Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto.